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 | 01/04/2005 15h23min

Imprensa italiana diz que João Paulo II está morto

Vaticano ainda não confirmou a informação

A imprensa italiana noticiou que o papa João Paulo II morreu nesta sexta, 1º de abril, aos 84 anos. As informações ainda não foram confirmadas pelo Vaticano. O eletroencefalograma mostrou uma linha reta, segundo a agência Reuters.

Contudo, de acordo com o ministro de Saúde do Vaticano, cardeal mexicano Javier Lozano, o Papa está em agonia e em estágio de pré-morte.

O 264º papa da História não resistiu a infecção generalizada, encerrando um dos mais longos e o mais influente papado de todos os tempos. João Paulo II foi superado apenas por outros dois líderes católicos na duração do seu pontificado. Somente Pedro, o apóstolo e primeiro Pontífice, que ficou à frente da Igreja Católica por 34 anos – ou 37 anos, não se sabe ao certo –, e o italiano Pio IX, com 32 anos de papado, superaram o último Papa.

Nesta manhã, mesmo depois de sofrer uma falência cardiovascular e um choque, João Paulo II participou de uma missa com assessores próximos e recebeu a comunhão. Ele estava lúcido e tranqüilo e optou por não ir para um hospital.

O estado de saúde do chefe da igreja católica piorou na tarde da quinta, 31 de março, quando uma infecção urinária provocou febre alta e pressão baixa. Desde fevereiro, o Papa apresentava uma saúde fragilizada. No início daquele mês, João Paulo II havia sido internado no Hospital Gemelli, em Roma, em decorrência de uma pneumonia.

Poucos dias depois de receber alta, voltou ao hospital e foi submetido a uma traqueostomia – cirurgia em que foi introduzida uma sonda para que ele respirasse melhor. Depois de sair do hospital, em 13 de março, o Pontífice apareceu poucas vezes em público.

Na última quarta, 30 de março, em decorrência de complicações, recebeu outra sonda, desta vez para auxiliar na alimentação. Desde que foi submetido à traqueostomia, João Paulo II havia perdido 19 quilos.

Nesta Páscoa, a fragilidade da saúde de João Paulo II ficou ainda mais evidente. Em 26 anos de papado, foi a primeira vez em que ele não conseguiu realizar a bênção da segunda seguinte ao Domingo de Páscoa, que encerra a celebração pontifical da Semana Santa. No Domingo de Páscoa, o Pontífice havia aparecido em uma janela no Vaticano para abençoar os fiéis, mas não conseguiu falar. Ele se limitou a fazer o sinal da cruz. A última vez que o papa havia falado em público fora duas semanas antes.

A mensagem do Domingo de Páscoa "Urbi et Orbi", expressão em latim para "à cidade e ao mundo", foi lida pelo cardeal Angelo Sodano. No texto, o Papa criticou a contínua violência ao redor do mundo, afirmando que esta deixou muitos lugares "banhados em sangue de muitas vítimas inocentes". O Pontífice lamentou a guerra e pediu a paz para os países da África e do Oriente Médio. Foi mais uma demonstração de que João Paulo II se mantinha atento às questões políticas mundiais.

O papado do polonês começou em 16 de outubro de 1978, quando os cardeais anunciaram com a tradicional fumaça branca saída da chaminé ao lado da Capela Sistina que Karol Wojtyla seria o primeiro Potífice não italiano em 455 anos, após três dias de reunião. Com a morte prematura de João Paulo I (que ficou 33 dias no cargo), aos 58 anos, Karol se tornou o Papa mais jovem em mais de um século. A simbologia de sua eleição, surpreendente para muitos que apostavam novamente em italianos, foi correspondida e superada pela sua atuação.

João Paulo II foi uma das personalidades mais importantes do século XX, um período marcado por profundas mudanças na sociedade, no qual o Papa não deixou de participar e opinar sobre os grandes temas. A força do polonês Wojtyla talvez seja comparada à do próprio São Pedro, papa que simboliza até hoje a dimensão do cargo. A lei do Vaticano diz: "o Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade quer dos bispos quer da multidão dos fiéis".

O pouco mais de quarto de século à frente da Igreja permitiu ao Pontífice a realização com afinco das duas missões iniciadas por Pedro e conferidas a Wojtyla pela Santa Sé. Para os fiéis e a sociedade em geral, revelou-se um Papa político e progressista. No plano moral, entre o clero, um conservador. Nos 26 anos de papado, João Paulo II focou sua atenção em diversos segmentos. Nunca foi apenas um líder religioso.

Com a visão conservadora, emitiu documentos e opiniões calcados dentro dos preceitos mais ortodoxos da Bíblia, não cedendo às mudanças da sociedade e procurando fortalecer a religião. Foi assim que o João Paulo II, em 1993, arranjou inimigos – e simpatizantes – ao condenar o aborto, o uso de métodos anticoncepcionais e o homossexualismo, uma de suas manifestações mais polêmicas.

Sua atuação na política internacional também foi decisiva. Foi um dos articuladores da queda do comunismo, regime sentido na pele por Wojtyla durante a vida na Polônia. Assim como foi um defensor incondicional dos direitos humanos, provável reflexo dos tempos que viveu sob domínio nazista no seu país. Para historiadores, o seu papel na queda do regime do Leste Europeu, em 1989, foi o legado mais duradouro deixado por João Paulo II.

Uma década depois de ver o fim do comunismo, ele ainda realizou outro de seus sonhos. Visitou a Terra Santa em março de 2000 e rezou no Muro das Lamentações, pedindo perdão em nome dos católicos pelos pecados cometidos contra os judeus ao longo dos séculos. O perdão foi estendido a outros temas. João Paulo II aproveitou o Jubileu para reconhecer os erros da Igreja durante 2 mil anos de História – como as Cruzadas, a Inquisição, a omissão em relação ao Holocausto, a discriminação da mulher e a catequização forçada dos índios.

Nas suas inúmeras missões diplomáticas, ele parecia tão à vontade passando sermões em ditadores, sejam de esquerda ou direita, quanto tentando convencer líderes de países democráticos sobre os problemas do capitalismo e da globalização no mundo pós-Guerra Fria.

– Falo em nome dos que não têm voz – afirmou quando esteve na África, em 1980.

A sua compenetrada defesa dos direitos humanos e da liberdade religiosa, além dos seus apelos por "uma nova ordem econômica mundial" e por direitos dos trabalhadores, levaram alguns a apelidá-lo de "papa socialista", numa referência que beira à ironia, dada a oposição do Papa aos regimes totalitários e ao comunismo. Ele também nunca perdeu oportunidades de se manifestar contra as armas nucleares e a favor da paz. Em 2003, comandou a campanha do Vaticano contra a guerra no Iraque.

A busca por entendimento entre as demais religiões levou João Paulo II a ser o primeiro papa da História a pregar em uma igreja protestante e em uma sinagoga. Foi também o primeiro a colocar os pés em uma mesquita. Mas, paradoxalmente, ao longo dos mais de 25 anos à frente da Santa Sé, foi motivo de profundas divisões na sua própria igreja. Muitos católicos, particularmente em países ricos, discordam de seus ensinamentos contra o planejamento familiar e o preservativo, contestam o veto a mulheres no clero e defendem que seu sucessor seja um liberal. Em 1995, João Paulo chegou a destituir um bispo francês porque ele falava mal de colegas e do próprio Pontífice.

– A doutrina da Igreja não pode se basear na opinião popular – disse a jornalistas para justificar suas decisões.

A oposição atingiu o seu ápice alguns anos após sua eleição. Em 1981, o Papa sobreviveu a um atentado cometido pelo turco Mehmet Ali Agca, na Praça de São Pedro, diante de 10 mil fiéis. Gravemente ferido por um tiro no abdômen, enfrentou seis horas de cirurgia. As razões do ataque nunca foram totalmente esclarecidas. Na época, atribuiu-se o atentado a uma suposta "conexão búlgara" de cunho comunista, que estaria tentado tirar o inimigo de circulção. No entanto, os acusados apontaram o próprio Vaticano como responsável por tramar o atentado. Nenhuma das explicações jamais ficou totalmente esclarecida. João Paulo visitou Agca na prisão e deu seu perdão.

Mesmo com as críticas e preocupado com o distanciamento dos fiéis em relação aos ensinamentos tradicionais, ele manteve a postura, domando a Igreja a rédeas curtas. O surgimento de diversas crenças alternativas – principalmente no Brasil – colocou em xeque a eficiência na pregação do Papa. Na própria Itália, a Meca do cristianismo, uma pesquisa divulgada em 2003 pelo jornal italiano La Repubblica revelou a redução das práticas religiosas pelos italianos.

A sondagem, realizada com 5 mil pessoas, mostrou que enquanto 87% afirmam ser católicos, apenas 29,3% iam regularmente à missa. Em 1985, 35,7% dos italianos freqüentavam a igreja. A pesquisa também revelou queda no número de casamentos.

O pulso firme, no entanto, tornou João Paulo II um papa mais perturbador e adorado do que seus antecessores, se somado o seu envolvimento no cenário internacional e nas instâncias da Igreja ao carisma – que o levou a ser ovacionado por multidões ao redor do mundo. Pio XII era considerado fechado e só aparecia para atividades ecumênicas. João XXIII fez reformas na Igreja e foi popular, mas sua atuação não chamou a atenção como a de Wojtyla. Paulo VI também era reservado. João Paulo I ficou apenas um mês no cargo.

A faceta mais notória e comentada do papado de Karol Wojtyla talvez tenha sido suas viagens. Na busca de garantir a expansão da religião, ele foi o pontífice que mais visitou países e mais se encontrou com líderes políticos e pessoas comuns. Mais de 17,6 milhões de peregrinos participaram das mais de mil audiências gerais celebradas no Vaticano às quartas. Essa estimativa não inclui as outras audiências especiais e as cerimônias religiosas e os milhões de fiéis que o Papa encontrou durante as suas viagens dentro e fora da Itália. No total, João Paulo II saiu do país mais de cem vezes, chegando a 130 países, alguns deles visitados mais de uma vez, como o Brasil. João Paulo encontrou inúmeros governantes, em 38 visitas oficiais e 982 audiências.

Além do apelido de "papa peregrino", o polonês também entrará para a História como o "papa santificador": nenhum de seus antecessores elevou aos altares mais santos. Até hoje, foram 482 canonizações.

O longo período que permaneceu doente deu tempo a João Paulo II planejar sua sucessão. Ele nomeou mais de 95% dos cardeais que podem participar do Conclave (reunião de cardeais) que vai eleger seu sucessor. Com isso, praticamente garantiu que o próximo papa vá seguir os seus polêmicos ensinamentos. Especula-se que João Paulo II deseja ser sucedido por um pontífice africano, para expandir a religião no continente e incentivar mais um ineditismo, levando um negro ao  posto máximo do catolicismo. Nas bolsas de apostas, os italianos sempre estão entre os citados, mas até um cardeal brasileiro pode assumir a cadeira de Pedro. O gaúcho Dom Claudio Hummes, arcebispo de São Paulo, é um dos nomes lembrados, assim como o nigerino Francis Arinze e o hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga.

Na última década, o mundo assistiu ao rápido declínio da sua saúde, intensificado no final dos anos 90. O papa atlético, que jogava como goleiro de futebol na juventude, deu lugar a um homem combalido, envergado e dependente. João Paulo II sofria do mal de Parkinson e de uma grave artrite. No final da vida, tinha dificuldades para pronunciar as palavras e completar seus discursos. A doença incentivou diversos boatos sobre uma possível renúncia do cargo, medida prevista nas leis do Vaticano. No entanto, o Papa declarou inúmeras vezes que iria ficar no cargo até o final da vida, obedecendo um desejo que atribuia a Deus. Cumpriu a promessa.

Confira as imagens da trajetória do Papa João Paulo II

Veja o vídeo da visita do Papa ao Rio Grande do Sul

Fiéis oram pela saúde de João Paulo II

Papa em Porto Alegre

Papas do século 20

 
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